Estava lá Henrique, sentado na última poltrona do ônibus circular. O itinerário até sua casa era longo, mais ou menos uns 6 quilômetros, e a velocidade e as paradas do ônibus tornavam as coisas ainda mais lentas.
O ônibus estava lotado, havia estudantes, idosos, bebês de colo; mas ali, apenas o vento vindo das janelas conversava entre todos.
Já era a sétima parada e Henrique sentiu-se meio desconfortado, tivera náusea no dia anterior e pela manhã, antes de ir ao serviço, tomara muito café. Decidiu levantar do seu lugar e ir próximo a saída, em breve chegaria seu ponto e ele desceria tranquilamente à sua casa, faria seu jantar e dormiria.
Ao seu lado estava uma senhora com uma poltrona vazia ao lado. Henrique percebeu, mas resolveu não sentar, visto que a poltrona era reservada a idosos, gestantes e pessoas obesas, já já entrariam mais pessoas que precisariam sentar ali.
Resolveu então ficar de pé mesmo. Na próxima parada entrou uma velhinha simpática que sentou ao lado da outra senhora. A senhora então disse à velhinha:
- Não sei que nojo que tem esses brancos – falando bem alto - de sentar ao lado de gente preta viu, é um horror. A gente que carrega eles nas costas, e eles nem aí. Dá vontade de …
- Com licença senhora, mas você está falando de mim? - Interrompeu Henrique.- Não sei que nojo que tem esses brancos – falando bem alto - de sentar ao lado de gente preta viu, é um horror. A gente que carrega eles nas costas, e eles nem aí. Dá vontade de …
- Não não moço, você parece que não é disso não. A gente percebe na hora quem é.
- Ah tá, porque eu só não sentei ao seu lado para deixar vago para algum idoso que chegasse, eu nem reparei na cor da senhora – Isso ele pensou mas não disse. A porta do ônibus se abriu e ele desceu despedindo-se da senhora, que continuou dizendo:
- Sorte que esse branquelo já desceu né, além de tudo é cara de pau... e continuou, continuou. E o ônibus continuava seu caminho, sem consciência alguma do que havia acontecido, talvez nem as pessoas que estavam ali.
Foi ele então esvaziando-se, esvaziando-se, até que não havia mais ninguém. Nem caminho.
Mas todos seguiam. Sem parar. Sem destino.
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