Estava eu ao banco, tentando livrar-me das impiedosas contas que assombram o trabalhador assalariado todo o mês e que nunca se sabe se terá dinheiro o suficiente pra pagar, quando me vem aos olhos uma das criaturas mais penosas e sem vida que eu já vi; calçado sujo e com o pé quase que escapando, vestimentas pequenas, a pele era áspera e queimada de sol, fedia a poeira, denunciando que andara a cidade inteira de ponta a ponta, o lábio seco, o que saia deles era um miado quase que afônico:
- Moço... Quer comprar doces?
Faço o sinal que não, balanço a cabeça de um lado para o outro.
- Por favor, moça, ajude a comprar o leite das minhas crianças!
Se esse fosse o caso de um texto apenas literário, e eu escritor de auto-ajuda, caro leitor, mudaria o sentido agora, diria que lhe caiu dos olhos uma lágrima vermelha e quente, mas continuemos, pois a moça não era muito sentimentalista, apenas arranhava-lhe a barriga algo que faz parte da natureza do homem. E o pedido feito com tal voz já me fora suficiente para pensar na minha vida e agradecer estupidamente pelo meu sucesso, zombá-la em pensamento, fazer injustas comparações, pensar que fui forte porque não era eu que estava a vender doces e nem tinha crianças famintas em casa.
Sacava dinheiro pra embriagar-me no fim de semana, deixar parte do salário na mesa de um bar. Saquei o dinheiro, vi que por agora a moça ocupava a frente do banco abordando as pessoas que passavam na calçada em direção ao shopping. Olhei-a rapidamente duas vezes, saí, peguei o ônibus, cheguei ao bar já era fim de tarde, bebi vinho seco suave, comi filé de frango, recitei poesias, citei Sócrates mais de cinco vezes, chegou a noite, estive muito bem, impressionei os amigos, paguei a conta (não necessariamente foi essa a ordem dos fatos), voltei sozinho pra casa. Nunca gostei mesmo de chocolate.
- Moço... Quer comprar doces?
Faço o sinal que não, balanço a cabeça de um lado para o outro.
- Por favor, moça, ajude a comprar o leite das minhas crianças!
Se esse fosse o caso de um texto apenas literário, e eu escritor de auto-ajuda, caro leitor, mudaria o sentido agora, diria que lhe caiu dos olhos uma lágrima vermelha e quente, mas continuemos, pois a moça não era muito sentimentalista, apenas arranhava-lhe a barriga algo que faz parte da natureza do homem. E o pedido feito com tal voz já me fora suficiente para pensar na minha vida e agradecer estupidamente pelo meu sucesso, zombá-la em pensamento, fazer injustas comparações, pensar que fui forte porque não era eu que estava a vender doces e nem tinha crianças famintas em casa.
Sacava dinheiro pra embriagar-me no fim de semana, deixar parte do salário na mesa de um bar. Saquei o dinheiro, vi que por agora a moça ocupava a frente do banco abordando as pessoas que passavam na calçada em direção ao shopping. Olhei-a rapidamente duas vezes, saí, peguei o ônibus, cheguei ao bar já era fim de tarde, bebi vinho seco suave, comi filé de frango, recitei poesias, citei Sócrates mais de cinco vezes, chegou a noite, estive muito bem, impressionei os amigos, paguei a conta (não necessariamente foi essa a ordem dos fatos), voltei sozinho pra casa. Nunca gostei mesmo de chocolate.
[Geisiara Lima]
3 comentários:
boa crônica, simples e direta
http;//www.pequenosdeleites.blogspot.com
Amei a crônica,bem criativa.
nossa que cronica maravilhosa, muito boa mesmo paeabéns !
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